Malaki’s
Vou contar-lhes a história de um dos maiores
filhos que a Terra já teve. Não foi um mártir, e não somente uma vítima. Foi
também um dos tiranos, um dos donos da noite no qual vitimou milhões de
humanos.
Seu nome era Gael, um dos noves príncipes da
Terra que era governada por Shen, um rei impiedoso e egoísta.
O Rei e os noves príncipes eram da ordem dos
Malaki’s. Uma raça superior aos seres humanos. Tinham intelecto e poderes
sobrenaturais e suas estruturas físicas condizentes ao grau de elevação. Eram
imunes a doenças e não havia armas que lhe causassem ferimentos. Não se sabe ao
certo as suas idades, apesar de apresentarem-se sempre jovens, mas de acordo
com os arquivos da catedral de Jeh, lugar de adoração dos humanos, havia
milênios em que existiam. Os humanos também não sabiam de onde vieram e qual
foi o motivo de sua estadia. Apesar da aparente indestrutibilidade, os malaki’s
não estavam isentos a ferimentos, pois o brilho da luz do dia lhes queimavam a
pele assim como a pureza da água. Sendo assim, eram seres noturnos e solitários.
Através dos anos, aprenderam a consumir somente a energia dos humanos para
restaurar-lhes as forças, mas de quando em quando era necessário que se
alimentassem de sangue. Havia um ritual, já estabelecidos entre esses seres e
os humanos, para saciar tal sede. Dos humanos que tinham suas energias
consumidas, muitos não retornavam para casa e se perdiam para além da baía.
Desses humanos conta-se que transformaram-se em sombras ou criaturas horrendas que
vagavam a procura de seus mestres. Dos que retornavam para casa, demorava-se muito
tempo para apresentar recuperação e uma tristeza sem fim se apodera de seus espíritos
e desse mal nunca se curavam. Os noves príncipes eram obedientes e temerosos à
Shen. Não havia nenhum parentesco entre eles, mas a hierarquia havia sido
estabelecida a tanto tempo que não se discutia a posição do rei . Shen tinha
seu capitólio onde era a sede de grandes reuniões para com os seus servos leais,
os noves príncipes. Já entre os príncipes havia amargura e vinganças pendentes,
pois em seus julgamentos, alguns gozavam de melhor prestígio junto ao rei,
recebendo o “selo”, o primeiro sangue. Era o mais poderoso sangue distribuído
após a elevação espiritual do rei. Nesse ato, o soberano transmitia seu sangue
renovado pela aquisição de novo grau. Somente ele podia ascender primeiro, e
assim adquiria novas habilidades. Grandes segredos transitavam entre os
malaki’s, gerando enorme desconfiança entre os príncipes e cada um, ao longo
dos tempos, recrutou uma milícia para o caso de alguma eventualidade.
Naquela época a Terra vivia sob as trevas e
grandes tremores deformavam planícies e mudavam montanhas de lugar.
Chuvas negras, uma mistura de água e fuligem,
castigavam o solo já tão infértil por si só. A fuligem era especialmente criada
para prolongar a vida da noite sobre o dia.
Nessas paisagens os principados se dividiam,
além de uma pequena baía, localizada ao sul, reservada para os últimos humanos.
Cada principado era interligado à capital por uma grande ponte, pois rios caudalosos
os circundavam.
Gael, o príncipe mais velho, vivia numa
grande planície ao norte da capital. Seu castelo era de mármore negro protegido
por quatro torres igualmente negras. E aquele campo aberto com um coração
azeviche era chamado de Citadel. Gael era de porte robusto e possuía longos
cabelos negros. Seus olhos eram brancos e tinham pupilas ofídicas, sua pele
também clara, era marcada por vários anos de batalha das quais muitas já não se
lembrava.
Ao lado direito de Citadel, ficava Barak,
uma ilha de grande extensão de onde brotava uma imensa montanha. Mylo, o
segundo príncipe na hierarquia, fez das entranhas dessa montanha sua magnífica
residência. Protegido pela força natural dos picos que o rodeavam, abrigava uma
pequena milícia que assegurava a ordem da ilha.
A noroeste da capital, distante de Barak morava
Lietw, o terceiro príncipe que era amante das alturas, por isso, através de
precipícios íngremes, fez o caminho de sua morada. Grandes aves habitavam o
local, e no ponto mais alto erguia seu castelo de gelo finíssimo e cristalino.
Al-Fahred era o nome desse principado.
Garmoth construira nos Pântanos de fogo a
leste da capital, uma intrépida muralha e no centro seu reino ostentava
grandioso brilho e fulgor. O quarto príncipe escolhera Najal, para sede de sua
cidade e era guardada por criaturas mortíferas. Esse príncipe tinha olhos e
cabelo avermelhados sobre uma pele branca como a neve. Dentre os príncipes, era
o que tinha menor estatura, mesmo com seus 1,85 de altura.
O
quinto e sexto príncipes dividiam Martaga, uma floresta densa e escura. Era
esse o lugar de maior terror para os humanos, pois dali se ouviam antigas
lendas e cânticos eram feitos a seu respeito. Lá havia duas faias, eram altas e
velhas, por isso inspiravam respeito. Em suas copas ostentavam belos tronos e dali
Jarhal e Alytian podiam ouvir qualquer som, até mesmo o murmurar de pequenos insetos
não lhes escapavam aos seus sensíveis ouvidos.
O sétimo príncipe era Layatel e fez de
Amonciath seu principado. Era uma cidade encoberta por frias brumas e o castelo
era invisível aos olhos descuidados. Os caminhos para chegar até ela eram
enigmáticos e cheios de perigos. Até mesmo a ponte que interligava a capital
era oculta. Layatel sentia grande carinho para com Gael, e isso foi decisivo na
época da “Grande busca”, pois sua contribuição não poderia denotar maior valor.
Sathing, o oitavo príncipe, era o mais alto,
chegando a 2,05 de altura. Sua voz soava como o trovão, e seu olhar queimavam
como o mais fulminantes dos raios. Grandes lobos guardavam seu castelo que era
feito de ossos de extintos animais. Essa cidade que lembrava um grande
cemitério levava o nome de Marfino.
Por fim, o nono príncipe, Fahzyl. Era
imprudente nas palavras e ousado nas atitudes. Caçava por longos tempos, mas
tinha sua cidade ao lado esquerdo da ilha de Citadel. Uma ilha onde o sol
deitava seus grandes raios e à noite era brindada com brisas frescas e suaves.
Liená era a sede do mais novo dos príncipes e ali, na ausência de seu dono, a
ilha era de rara beleza ornada por belas flores e verdíssimo gramado. Mas
quando da chegada de Fahzyl, tudo murchava e nada lembrava vida naquelas
paragens.